Laura Nader (1930-) é uma antropóloga estadunidense, que obtém reconhecimento sobretudo por “estudar os de cima” (studying up), isto é, pela execução do exercício antropológico entre grupos dominantes na cultura ocidental, como colonizadores, burocratas e corporações. Defende que, uma vez realizada entre diferentes camadas, a antropologia lograria uma visão mais ampla das questões sociais, estabelecendo conexões, por exemplo, entre políticas de crédito bancário discriminatórias (ligadas aos “de cima”) e a pobreza (associada aos “de baixo”). Nader concluiu seu doutorado em 1961 pela Universidade de Harvard, sob orientação de Clyde Kluckhohn (1905-1960). Ingressou como professora na Universidade da Califórnia em Berkeley no ano de 1960, tendo sido a primeira mulher contratada em regime de estabilidade permanente em seu departamento. Manteve-se ali até sua aposentadoria, obtendo o título de professora emérita na instituição.
Atuando em diversos domínios, a autora conta com publicações nas áreas de antropologia da ciência, a exemplo da coletânea Naked science (1996) e do capítulo “The phantom factor: impact of the cold war on Anthropology” (1997); antropologia do Oriente Médio, como a coletânea What the rest think of the West (2015); e, sobretudo, na antropologia do direito, área à qual dedicou a maior parte de sua carreira. Nader reivindica que essa subdisciplina seja conduzida de modo engajado, contribuindo com questões politicamente relevantes e com os movimentos sociais. Reclama uma antropologia do direito que não pense as leis como autônomas e isoladas das demais esferas da vida sociocultural (religião, economia, política, família etc.) Alguns de seus livros nesse âmbito são: Harmony ideology: justice and control in a Zapotec mountain village (1990), sobre o sistema de justiça zapoteca e The life of the law (2002), onde retoma sua trajetória dentro da antropologia do direito, explora as relações entre antropólogos e juristas e desenvolve a sua user theory of law (teoria dos usuários do direito), que versa sobre o papel central que requerentes, normalmente a parte menos poderosa dos processos, exercem nas transformações das legislações. Realiza, assim, um diálogo crítico com teorias estabelecidas na ciência política e no direito, que atribuem as mudanças nas legislações à agência da política institucional. Já em Pilhagem: quando o Estado de direito é ilegal (2013), escrito em parceria com o jurista italiano Ugo Mattei, os autores mostram outro lado do sistema legal: aqueles que detêm poder utilizam-se de práticas e retóricas legais para ampliá-lo.
Nader menciona frequentemente as dificuldades em publicar seus trabalhos nos EUA, considerados controversos em função de críticas a certos dogmas da cultura norte-americana e também pelo seu caráter pluridisciplinar (por isso o título da coletânea Contrarian Anthropology, 2018). Pilhagem (2013), por exemplo, passou por atribulado processo de editoração devido a sua temática, tendo sido rejeitado por duas editoras universitárias. Naked science (1996), por sua vez, não foi resenhado nos EUA e vendeu mais cópias no exterior do que em sua terra natal. Do mesmo modo, o ensaio Orientalism, occidentalism, and the control of women (1989) foi editado apenas na Bélgica. Tais dificuldades não impediram o reconhecimento do seu legado, sobretudo em função de suas contribuições metodológicas. No Brasil é possível ver suas marcas em estudos sobre burocracias, corporações, empreendimentos e práticas filantrópicas.
Como citar este verbete:
ALMEIDA, Gabriel Lino de. “Laura Nader”. In: Enciclopédia de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia, 2021. Disponível em: https://ea.fflch.usp.br/autor/laura-nader
ISSN: 2676-038X (online)
Gabriel Lino de Almeida
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LAURI, Antonio de, “Think Like an Anthropologist – A Conversation with Laura Nader”, Allegra Lab. 18 de dezembro de 2013, Entrevista disponível em: <https://allegralaboratory.net/think-like-an-anthropologist-a-conversati…;
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