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William Halse Rivers

Nascido na cidade de Chatham, região do Kent, Inglaterra, William Halse R. Rivers (1864-1922) conclui sua graduação em medicina, aos 22 anos, obtendo o título de doutor na Universidade de Londres, dois anos depois. Em 1891, trabalha como médico residente no National Hospital for the Paralysed and Epileptic, período em que publica estudos nas áreas de psicologia e neurologia. A fim de especializar-se nesses campos, muda-se para a Alemanha, onde irá estudar na Universidade de Iena com o psiquiatra Emil Kraepelin. De volta à Inglaterra, assume o Laboratório de Psicologia na University College London, tornando-se, em 1897, o primeiro professor em psicologia fisiológica e experimental da Universidade de Cambridge. Na primeira década do século XX, Rivers produz uma série de artigos nos campos da antropologia e psicologia experimental. Após uma segunda expedição à Oceania, às Ilhas Salomão (Melanésia), publica o artigo “O método genealógico na pesquisa antropológica” (1900 e 1910, para a segunda versão revista), no qual apresenta uma ferramenta capaz de coletar, com precisão e rapidez, informações-chave para os estudos de parentesco e da organização social.

Foto por Henry Maull para The Royal Society (1922)

Membros da Expedição do Estreito Torres de 1898 da Universidade de Cambridge. Em pé da esquerda para a direita: Rivers, Seligman, Ray, Wilkin. Sentado: Haddon. Museu de Arqueologia e Antropologia da Universidade de Cambridge

Em 1898, Rivers integrará a expedição ao estreito de Torres, localizado entre a Austrália e a Nova Guiné, que se tornaria um marco na história da antropologia em geral e na britânica, em particular. Sua experiência com os insulares dessa região da Melanésia, onde conduziu, como psicólogo, testes sobre as percepções visuais e cognitivas dos nativos, foi fundamental para que sua carreira e produção se orientassem na direção da antropologia; é nesse contexto que lança as bases para o desenvolvimento de seu método genealógico. Entre 1901 e 1902, com interesse em temas como o parentesco e a organização social, passa cinco meses no sul da Índia, entre os Todas, cujo resultado vem à luz com a monografia The Todas, publicada em 1906. A experiência de ir a campo para obter seus próprios dados de pesquisa sinaliza o esforço do autor em trabalhar com fontes primárias, algo pouco comum à produção antropológica da época. Nos anos seguintes, Rivers aproximaria-se do difusionismo, o que era considerado, por alguns antropólogos de sua geração, uma adesão à empiria estimulada pelo trabalho de campo.  Em seu primeiro discurso como presidente da seção de antropologia da British Association for the Advancement of Science, em 1911, realiza duras críticas à atitude especulativa adotada pelos evolucionistas, considerando-a extremamente prejudicial à constituição da nova ciência. Em 1914, publica Kinship and social organization, coletânea com três conferências ministradas em 1913 na London School of Economics sobre sua experiência durante o campo realizado na segunda expedição à Oceania. No mesmo ano, publica The History of melanesian society, obra em dois volumes, considerada pelo autor a sua mais importante publicação. Enquanto o primeiro livro contém descrições etnográficas dos povos visitados, o segundo abarca uma densa discussão teórica voltada, sobretudo, para uma crítica à perspectiva evolucionista, ressaltando a importância das análises etnológicas frente às especulações “de gabinete”. Durante a I Guerra Mundial, Rivers reaproxima-se da psicologia, ganhando notoriedade pelos tratamentos que realizou entre os soldados britânicos com traumas de guerra. Também se envolve com a esfera política, sendo nomeado candidato ao Parlamento britânico nas eleições de 1922 pelo Partido Trabalhista. Mas não chegou a disputar o pleito, já que faleceria meses antes.

Em seu multifacetado trajeto intelectual, W. H. R. Rivers estabeleceu o programa básico da antropologia social britânica ao adotar a pesquisa empírica como fonte privilegiada de informação,  influenciando importantes autores da disciplina, como Radcliffe-Brown (1881-1955) e instituindo preceitos fundamentais para estudos posteriores sobre o parentesco e a organização social, especialmente por ter privilegiado a pesquisa empírica e estabelecido o método genealógico. Como lembra Roberto Cardoso de Oliveira (1928-2006) na introdução a um volume dedicado a Rivers, o caráter científico que o antropólogo objetivava conferir à antropologia foi emblematicamente sintetizado por Claude Lévi-Strauss (1908-2009) quando disse, em 1958:  “Em Rivers, a etnologia encontrou seu Galileu”.

Como citar este verbete:
MANDELLI, Mariana Carolina; SOARES, Michel de Paula; FAVERO, Raphael Piva Favalli. “William Halse Rivers”. In: Enciclopédia de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia, 2017. Disponível em: <http://ea.fflch.usp.br/autor/william-halse-rivers>

ISSN: 2676-038X (online)

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R
date of publication
01/07/2017
authors

Mariana Carolina Mandelli, Michel de Paula Soares e Raphael Piva Favalli Favero

bibliography

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RIVERS, William Halse R., The Todas, Londres, Macmillan & Co, 1906

RIVERS, William Halse R., The History of Melanesian society, Percy Sladen Trust Expedition to Melanesia, 2 cols. Cambridge, Cambridge University Press, 1914

RIVERS, William Halse R., “Kinship and social organisation”, Studies in Economic and Political Science, No. 36, 1914

OLIVEIRA, Roberto Cardoso (org.), A antropologia de Rivers. Tradução Gilda Cardoso de Oliveira e Sônia Bloomfield Ramagem. Campinas, Editora da UNICAMP, 1991

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