O Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP) é um dos quatro museus estatutários da USP ao lado do Museu de Arte Contemporânea (MAC), do Museu Paulista e do Museu de Zoologia, e foi criado em 1989 por meio da Resolução nº 3560 de 11 de agosto de 1989, na gestão do então reitor, o físico José Goldemberg (1928-). Por meio dessa Resolução foram reunidos, numa única instituição, os componentes arqueológico e etnográfico do Museu Paulista, o acervo etnográfico Plínio Ayrosa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), o Instituto de Pré-História e o antigo Museu de Arqueologia e Etnologia – este último criado inicialmente em 1964, como Museu de Arte e Arqueologia pelo professor de História Antiga, Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses (1936-) da FFLCH-USP. A justificativa para tal “fusão” de acervos, recursos humanos e instituições levou em conta a inconveniência de existirem, na mesma universidade, duplicações e superposições de órgãos e atividades afins, além da dispersão dos vários museus e institutos congêneres, publicações, recursos humanos e orçamentos.
A partir dessa história é possível notar que as origens das coleções mais antigas do MAE remontam ao Museu Paulista ainda no século XIX, quando esta instituição abriu as suas portas em 1895, como um grande museu de história natural. O MAE reúne, atualmente, um acervo composto por aproximadamente hum milhão de itens caracterizados por uma diversidade ampla de coleções, tanto territorial como temporalmente: possui coleções arqueológicas referentes aos povos originários do Brasil e da América de colonização espanhola; do Mediterrâneo e Médio-Oriente na Antiguidade (Egito, Grécia, Roma e Mesopotâmia); artefatos da cultura material de sociedades indígenas contemporâneas e da tradição africana e afro-brasileira. No que diz respeito às coleções de arqueologia clássica e mediterrânica é importante salientar o papel do professor Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses ao articular, ainda no antigo MAE-USP, os objetivos institucionais em torno das heranças europeia, americana e africana para a formação da identidade brasileira.
Além de reunir esse amplo e singular acervo material, o MAE-USP atua na direção da preservação de seu patrimônio, a partir de ações voltadas para o equilíbrio de sua cadeia operatória museológica, que inclui os setores de documentação, conservação e restauro, educação e expografia, realizando, dessa forma, um trabalho voltado à gestão e à difusão de suas coleções. Além disso, o museu reúne diversos laboratórios de pesquisa dirigidos às áreas temáticas de cada uma de suas especialidades que são coordenados por docentes da instituição em suas três frentes de atuação: arqueologia, etnologia e museologia. O MAE também possui o Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas, localizado no município de Piraju no interior paulista, numa ação que expande a sua vinculação com museus e centros regionais de pesquisas arqueológicas. Também é de referência a Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia que vem, cada vez mais, se afirmando como canal de importância para a difusão de artigos e dossiês nas três áreas de pesquisa nas quais o MAE atua.
No campo do ensino, o MAE conta com dois programas de pós-graduação, um voltado para a arqueologia (mestrado e doutorado) e outro em museologia. Tem a preocupação também com a formação de alunos de graduação pelo oferecimento de diversas disciplinas voltadas para cursos da Universidade de São Paulo, numa atuação interdisciplinar que incide não apenas sobre o MAE mas sobre o corpo discente das unidades que procuram a instituição. É preciso ressaltar que a consolidação da pós-graduação em arqueologia do MAE-USP é herdeira da área de concentração em arqueologia do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da FFLCH-USP. Também como resultado dessa aproximação o museu contou, em seu quadro docente, com a presença de antropólogos que atuaram com a pesquisa em cultura material indígena, tais como as professoras Thekla Hartmann e Sonia Ferraro Dorta, além de outras parcerias que redundaram em centros de antropologia como, por exemplo, o Centro de Estudos Ameríndios (CESTA), do Departamento de Antropologia da FFLCH-USP.
Como parte de seu processo curatorial – entendido como o ciclo completo de atividades realizadas em torno de seu acervo - o MAE vem realizando ações museológico-curatoriais junto a diferentes sociedades indígenas numa perspectiva colaborativa. Nessa nova modalidade de atuação, os indígenas convertem-se em protagonistas desse mesmo processo curatorial, empreendendo reinterpretações e ressignificações desse acervo e auxiliando a estabelecer um novo patamar de condutas no interior da instituição, que passa a repensar seu papel junto à sociedade mais ampla. Um exemplo disso é a exposição temporária, “Resistência Já! Fortalecimento e união das culturas indígenas Kaingang, Guarani Nhandewa e Terena”, inaugurada em 2019 e atualmente aberta para visitação. Além disso, há também visitas frequentes de diferentes etnias indígenas aos espaços de suas reservas técnicas que buscam referências nesse acervo de matrizes identitárias para seus processos de reconstrução de memórias.
O MAE ainda se ressente da inexistência de um espaço adequado que esteja à altura de seu amplo e importante acervo, uma vez que desde a sua fundação esteve sediado em espaços emprestados como o edifício da reitoria, o Prédio da História e Geografia, o Bloco D do CRUSP e, atualmente, o prédio do antigo Fundo de Construção da USP (FUNDUSP). A partir de 2023, a Universidade de São Paulo vem dando apoio para que um novo espaço possa definitivamente tornar-se realidade, de modo condizente com o lugar de referência que o MAE-USP ocupa no campo da museologia, da arqueologia e da etnologia no Brasil.
Como citar este verbete:
VASCONCELLOS, Camilo de Mello. “Museu de Arqueologia e Etnologia da USP”. In: Enciclopédia de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia, 2023. Disponível em: https://ea.fflch.usp.br/instituicoes/mae-usp
ISSN: 2676-038X (online)
Camilo de Mello Vasconcellos
BRUNO, Maria Cristina Oliveira, O Museu do Instituto de Pré-História: um museu a serviço da pesquisa científica, Dissertação de Mestrado em História, FFLCH-USP, 1984
BRUNO, Maria Cristina Oliveira, Musealização da Arqueologia: um estudo de modelos para o Projeto Paranapanema, Tese de Doutorado em Arqueologia, FFLCH-USP, 1995
CURY, Marília Xavier, “Política de gestão de coleções: museu universitário, curadoria indígena e processo colaborativo”, Revista CPC, 15 (30esp.), 2020, p. 165-191
FLORENZANO, Maria Beatriz Borba. & FLEMING, Maria Isabel D’Agostino, “Trajetórias e perspectivas do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (1964-2011)”, Revista do Instituto de Estudos Avançados, São Paulo, 25 (73), 2011, p. 217-228
SILVA, Mauricio André da, Abordagens educacionais para uma arqueologia parente com comunidades tradicionais da RDS Amanã e da FLONA Tefé, Amazonas, Tese de doutorado em Arqueologia, MAE-USP, 2022
VASCONCELLOS, Camilo de Mello, “Arqueologia e educação patrimonial: a experiência do MAE-USP”, Revista CPC, 14 (27 esp), 2019, p. 255-279
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, Resolução USP - nº 3560 de 11/08/1989.
Site: https://mae.usp.br/